🌍 A Unidade na Diversidade: Um Caminho Ortográfico Partilhado
A língua portuguesa é como um grande rio que atravessa continentes, culturas e histórias. Da foz atlântica de Lisboa às margens do Kwanza, passando pelas serras de Timor e os morros do Brasil, o português vive, respira e adapta-se. Mas, com tanta variedade linguística, como harmonizar a escrita sem silenciar a identidade? É a esta questão que o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 procurou responder, propondo uma unificação ortográfica entre os países lusófonos.
Este módulo tem como objectivo compreender as motivações, os desafios e os impactos da unificação ortográfica nos países de língua oficial portuguesa, com ênfase nas particularidades de Angola, que, mesmo não tendo ainda ratificado oficialmente o acordo, participa activamente nos fóruns da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) onde este tema é debatido.
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📚 Por que Unificar?
A ortografia unificada visa:
• Reduzir as diferenças gráficas entre os países lusófonos, especialmente entre Portugal e Brasil;
• Facilitar a circulação de livros, documentos e conteúdos didácticos em todo o espaço da CPLP;
• Promover uma maior cooperação académica e editorial;
• Fortalecer a presença do português como língua global, especialmente nas organizações internacionais.
Contudo, essa proposta também gera controvérsias, especialmente nos países africanos, como Angola e Moçambique, onde o português convive com línguas nacionais e expressões culturais próprias.
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🗺️ Panorama Geral da Lusofonia e a Ortografia
País Status do Acordo Ortográfico Características Ortográficas
Angola Não ratificado oficialmente Uso do português europeu com influências locais
Brasil Em vigor desde 2009 Maior número de mudanças ortográficas
Portugal Em vigor desde 2009 (oficial) Mudanças com foco em supressão de consoantes mudas
Moçambique Não ratificado oficialmente Similar a Angola, resistência moderada
Guiné-Bissau Adopção parcial Aplicação parcial no ensino
Cabo Verde Ratificado Transição gradual em materiais escolares
São Tomé e Príncipe Ratificado Adopção formal desde 2006
Timor-Leste Ratificado Uso do português com forte presença do tétum
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✍🏾 Ortografia e Identidade Nacional
Em Angola, a ortografia não é apenas uma questão técnica — ela reflete a história, a política e a cultura do povo. O português angolano possui traços distintivos marcados pelo contacto com as línguas nacionais, a oralidade rica e o contexto pós-colonial. Assim, qualquer tentativa de unificação ortográfica deve considerar:
• A autonomia linguística de Angola;
• A necessidade de formação de professores e revisores;
• O custo de adaptação de materiais escolares e administrativos;
• A preservação do património linguístico angolano.
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🎓 Reflexão Académica
A unificação ortográfica não significa uniformização da fala. As variações fonológicas, lexicais e sintácticas continuarão a existir — e isso é saudável. O objectivo é apenas que o que se escreve em Luanda possa ser compreendido com facilidade em Maputo, Lisboa ou Brasília, respeitando a diversidade e promovendo a inteligibilidade mútua.
O desafio de Angola será encontrar um equilíbrio entre a soberania linguística e a cooperação internacional, usando o Acordo Ortográfico como um instrumento de integração — e não de imposição.
Sobre a aula