Conteúdo do curso
NOVA ORTOGRAFIA DA LÍNGUA PORTUGUESA
Sobre a aula

📚 Introdução

A língua portuguesa, em Angola, não é apenas instrumento de comunicação — é um símbolo de identidade nacional e meio estruturante de desenvolvimento social e económico. As mudanças trazidas pelo Acordo Ortográfico de 1990 suscitaram debates intensos sobre a sua aplicabilidade, sobretudo nos sectores da educação e do mercado de trabalho.

Embora Angola ainda não tenha ratificado formalmente o Acordo, a sua influência é perceptível nas práticas pedagógicas e em alguns sectores profissionais. Nesta aula, abordamos como a nova ortografia tem sido (ou não) aplicada nas escolas, universidades, concursos públicos, empresas e meios de comunicação social, analisando os seus impactos, tensões e perspectivas.

🏫 1. A Nova Ortografia na Educação em Angola

1.1. Realidade Actual no Sistema Educativo

Em Angola, o sistema de ensino ainda apresenta uma convivência entre a ortografia tradicional e a nova ortografia, sobretudo no ensino primário e secundário. A falta de uniformidade nos manuais escolares e nas práticas de docência cria um cenário de incerteza para estudantes e professores.

Principais características:

Elemento Observado

Situação Atual

Manuais escolares

Uso misto (nova e antiga ortografia)

Formação de professores

Deficiente em temas ortográficos atualizados

Avaliações nacionais (exames)

Predominância da ortografia tradicional

Terminologia técnica

Maior estabilidade na forma tradicional

📝 Exemplo: Num manual de Língua Portuguesa da 6.ª classe, é possível encontrar “ação” (nova ortografia) ao lado de “projecto” (ortografia tradicional), o que evidencia a coexistência informal das normas.

1.2. Desafios na Educação:

  • Falta de diretrizes oficiais sobre qual norma utilizar.
  • Insegurança linguística entre alunos e professores.
  • Carência de formação contínua dos docentes.
  • Ausência de revisão curricular sistemática sobre o tema.

💼 2. A Nova Ortografia no Mercado de Trabalho

2.1. Empresas, Administração Pública e Concursos

No sector empresarial e na administração pública, a ortografia também não está padronizada. Documentos internos e externos continuam a ser redigidos segundo a norma pré-acordo, mas empresas com ligação a instituições internacionais — como bancos, multinacionais e ONGs — já adoptam parcialmente a nova ortografia.

Tabela Comparativa: Adoção Ortográfica no Ambiente Profissional

Sector

Norma Mais Utilizada

Administração Pública

Ortografia tradicional

Sector bancário

Misto (com tendência ao novo)

Multinacionais

Nova ortografia predominante

Empresas nacionais

Ortografia tradicional

Concursos públicos

Predominância do modelo antigo

2.2. Implicações no Emprego

  • Recrutamento: A nova ortografia começa a ser valorizada como um diferencial, especialmente em cargos administrativos e de comunicação.
  • 📄 Currículos: A inconsistência ortográfica pode ser interpretada como falha técnica, comprometendo a candidatura.
  • 📧 Comunicação escrita: E-mails corporativos, relatórios e apresentações exigem domínio crescente da norma mais actualizada.

📌 3. Reflexões e Caminhos para a Padronização

3.1. Para o Sector Educativo:

  • Revisão curricular nacional que defina de forma clara a norma ortográfica a ser ensinada.
  • Actualização dos manuais escolares com base em normas acordadas por um grupo técnico-científico angolano.
  • Capacitação docente contínua e obrigatória, com foco na ortografia e gramática normativa.

3.2. Para o Mercado de Trabalho:

  • Criação de manuais internos de comunicação escrita nas instituições.
  • Integração de formações linguísticas em planos de desenvolvimento profissional.
  • Reconhecimento formal de competências linguísticas no processo de recrutamento.

Conclusão

A ortografia não é apenas uma convenção gramatical: é um instrumento de inclusão, eficiência e reconhecimento profissional. A sua padronização no espaço angolano — especialmente na educação e no mercado de trabalho — representa um desafio e uma oportunidade. Cabe ao Estado, às escolas, universidades e empresas liderar este processo com consciência, rigor e sensibilidade cultural.

Enquanto Angola decide ou não pela ratificação do Acordo Ortográfico de 1990, torna-se urgente construir um modelo ortográfico nacional coerente, que garanta a clareza comunicativa, respeite a diversidade linguística e prepare os cidadãos para o mundo lusófono global.

Bookmark