Introdução

A língua portuguesa, rica em nuances e expressividade, apresenta um fenómeno fascinante conhecido como homonímia — isto é, a ocorrência de palavras que possuem a mesma forma (grafia ou pronúncia), mas significados distintos. Estas palavras, denominadas homônimas, por vezes geram confusão e ambiguidades na escrita, principalmente após as alterações promovidas pelo Acordo Ortográfico de 1990.

Nesta aula, vamos explorar as palavras homônimas no contexto da nova ortografia, com foco na sua ocorrência no português usado em Angola. Compreender estas ambiguidades é essencial não apenas para evitar mal-entendidos na comunicação escrita, mas também para reforçar a competência linguística dos falantes em contextos formais e académicos.

1. O Que São Palavras Homônimas?

As palavras homônimas subdividem-se em três categorias principais:

2. A Nova Ortografia e o Aumento das Ambiguidades

Com a supressão de acentos diferenciais, algumas palavras tornaram-se homônimas perfeitas, acentuando o risco de ambiguidade na escrita. A ausência de acento impossibilita a distinção imediata entre palavras que antes se diferenciavam graficamente.

🔍 Exemplos Práticos

A simplificação ortográfica requer, portanto, um esforço adicional de contextualização, por parte do leitor e do escritor, para evitar interpretações dúbias.

3. Ambiguidades na Escrita e na Interpretação

Em contextos formais, como documentos oficiais, textos académicos e publicações jornalísticas, as ambiguidades causadas por homônimos podem comprometer a clareza da mensagem. A resolução destas ambigüidades depende frequentemente do contexto linguístico e semântico.

✍🏽 Exemplo Angolano de Ambiguidade

“O aluno foi pelo corredor do colégio.”

Sem um contexto adicional, pode-se interpretar:

• “foi pelo (substantivo)” = o aluno foi pelo do corredor (absurdo ou incoerente)
• “foi pelo (preposição: por + o)” = o aluno passou pelo corredor

Apesar da segunda interpretação ser a lógica, a ausência do acento torna a leitura menos imediata, especialmente para aprendizes da língua.

4. Soluções e Estratégias para Evitar Ambiguidades

1. Utilizar o contexto: A principal ferramenta do leitor e do escritor é o uso da contextualização. As palavras devem estar inseridas em frases que lhes atribuam um significado inequívoco.
2. Paráfrase: Sempre que houver risco de ambiguidade, pode-se reestruturar a frase.

Ambíguo: “Ele trouxe a manga.” Claro: “Ele trouxe a fruta manga.” / “Ele rasgou a manga da camisa.”

1. Uso de sinonímia: Optar por sinónimos que não tenham dupla interpretação.
2. Leitura em voz alta: Por vezes, a leitura oral ajuda a perceber qual é a palavra correcta, com base na entoação e na fluência do discurso.

5. A Realidade do Português em Angola

Em Angola, onde o português convive com diversas línguas nacionais, a questão das homônimas é ainda mais delicada. A influência de línguas bantu, as variações regionais e o próprio processo de ensino-aprendizagem da língua tornam fundamental a explicitação de sentidos nas mensagens escritas.

Além disso, a crescente digitalização da comunicação — via redes sociais, mensagens instantâneas e plataformas de ensino — exige uma escrita mais clara e desambiguada. Por isso, é essencial que o ensino do novo acordo ortográfico em Angola considere essas particularidades locais, promovendo uma abordagem contextual e crítica.

Tabela Resumo – Homônimas com Acento Suprimido

Conclusão

O Acordo Ortográfico de 1990, ao simplificar a ortografia do português, trouxe consigo benefícios e desafios. Entre os desafios, destacam-se as ambiguidades criadas pela supressão de acentos diferenciais, que deram origem a homônimas perfeitas. Em Angola, esse fenómeno linguístico merece uma atenção pedagógica especial, para que a comunicação escrita se mantenha clara, eficaz e coerente.

Nas próximas aulas, aprofundaremos os impactos práticos dessas mudanças no dia a dia dos falantes angolanos, com foco em exercícios e estratégias que ajudam a minimizar os efeitos da ambiguidade na produção textual.